quinta-feira, 13 de setembro de 2007

A atualidade do Manifesto Comunista

Um dos capítulos mais interessantes das Aventuras do Marxismo de Marshall Berman fala da atualidade do Manifesto Comunista. Sempre achei admirável a retórica a e a veemência do Manifesto, mas não tinha ainda atentado para a sua atualidade focalizada por. Berman. chama a atenção para este fato, principalmente ao citar as palavras de Marx e Engels: “o constante revolucionamento da produção, a ininterrupta perturbação de todas as relações sociais, a infinita incerteza e agitação, distinguem a era burguesa de todos os períodos anteriores. Todas as relações fixas e rapidamente solidificadas, com sua coleção de idéias e opiniões veneráveis são varridas do mapa; todas as relações recém-formadas tornam-se obsoletas antes de terem tempo de se calcificar. Tudo o que sólido desmancha no ar, tudo o que é sagrado é profanado, e os homens são por fim forçados a encarar com sentidos sóbrios as reais condições de suas vidas e suas relações com os outros homens”. Além de ter motivado uma interpretação interessante de Berman, esta passagem nos faz refletir sobre a atualidade do Manifesto.
Pensar a atualidade do socialismo pode parecer algo fora to tempo, embora, é bem verdade as questões e os problemas propostos pelo capitalismo globalizado não tenham como ser resolvidos nos quadros da Sociedade do Capital, ainda não se conseguiu formar uma alternativa conseqüente nos quadros da esquerda para estes problemas.
Grande parte da esquerda, depois da queda do Muro de Berlin, ficou perdida sem pensar soluções, e não foram poucos que se deslocaram para o campo da direita ou quanto muito para o centro. Cabe, contudo uma pergunta. A luta pelo socialismo não estaria passando por uma nova fase?
A atual fase de aprofundamento da globalização, agora em regime planetário, fornece um vasto material para se pensar. Deleuze e Guatarri, no Anti-Édipo utilizaram a idéia da desterritorialização como um dos elementos para se entender o movimento da sociedade burguesa moderna. O capitalismo, já na sua fase descrita por Marx, e agora, caracteriza-se por um intenso movimento de desterritorialização e franqueamento de barreiras e fronteiras. A sua lógica é a da integração de processos e inclusão de economias e sociedades dentro do esquema geral do modo de produção capitalista.
O modo como esse processo ocorre com o aprofundamento da divisão do trabalho, e a conseqüente alienação do trabalhador, agora não apenas proletários, mas os profissionais liberais, artistas, cientistas, todos agora inseridos no esquema de vender o seu tempo, alienar parte da sua vida para garantir o seu consumo, seja como diz Marx, com bens necessários ao estômago ou a fantasia. Assistimos a um processo de alienação em escala mundial.
Sob outro aspecto, este processo de alienação, no aprofundamento da divisão do trabalho, acirra e estende o caráter fetichista e a transmutação das relações entre homens como relações entre coisas. Agora, o reino das mercadorias expandiu-se a ponto de incluir desde sapatos até artigos científicos. Tudo inexoravelmente se integra na lógica do capital.
Dialeticamente o sistema ao mesmo tempo em que tem necessidade de maior integração, ampliar as possibilidades de fluxos de capitais e de informações, constrói uma ampla rede de comunicação, que tem crescido de modo exponencial, e, em tese traz a potencialidade de comunicação e integração também dos movimentos sociais. Será que a rede pode tornar-se a rede de uma consciência globalizada?
Um exemplo interessante desta consciência globalizada está, em minha opinião, no modo pelo qual o sistema Linux tem sido produzido. Vale a pena ler uma pequena história do Linux no “Rebel Code: the Linux and the Open Source Revolution”, de Gly Moody. O modo coletivo pelo qual o Linux e outros componentes são produzidos, não sinalizaria uma nova maneira de produzir coisas? É bem verdade que se trata de produtos “intangíveis”, mas curiosamente há um comitê, ou um grupo de coordena, testa e valida as propostas encaminhadas e finalmente incorporadas ao kernel do sistema. O mesmo ocorre com os diferentes integrantes dos pacotes vinculados ao GNU-Linux, aderentes ao General Public Licence. Será que os tempos estão mudados?